terça-feira, 27 de agosto de 2019

Tudo sobre a tempora de 2005 do Sítio do Picapau Amarelo

Sabia que a temporada de 2005 nada teria a ver com a história de Cléo e João da Luz? Pois é, na verdade seria muito diferente, e passa longe do que acabou se tornando (Ufa!), hoje considerada como uma das melhores temporadas da trama, pela história e envolvimento, a temporada de 2005 passa despercebida pelos amantes da antiga versão, mas trás boas lembranças para quem acompanhou na época, e para quem acompanha hoje. Vamos relembrar então? 


Pela primeira vez o Sítio saia de sua zona de conforto, e se tornava agora uma novelinha, abandonando o formato episódios. Novidade deveria ser o nome da nova temporada, pois foi o que não faltou neste ano, falando em nome, a novela teve como subtítulo O preço do amor verdadeiro, forte né não?  

Neste ano, contamos com novos personagens, entre ele tivemos a maior novidade da trama: A nova boneca da Narizinho, a Patty Pop.  Há quem torça o nariz para personagem, pelo fato de ser a antagonista de Emília no seriado. A boneca é dada pela Coronel Teodorico, é super hiper mega patricinha e moderna, a responsável pela música trilha da boneca de plástico ficou por conta de Wanessa Camargo. 

Cléo e João da Luz são outros novos personagens da trama, diferente da Patty Pop que foi inclusa no mundo de Lobato, Cléo e João foram inspirados em personagens avulsos dos livros. Cléo aparece no livro Caçadas de Pedrinho, e assim como é mostrada na temporada, Cléo é uma radialista da cidade que troca cartas com Narizinho, na minha opinião foi muito bacana usufruírem mais da personagem que quase não é lembrada pelos leitores da obra. Já João da Luz, aparece no livro Historia do Mundo Para Crianças, chamado originalmente de Zé da Luz, que é um personagem brigão. 

Dona Joaninha, dona da pensão e Ceceu, sua afilhada permaneceram no programa, assim como Anjico e Zequinha, sobrinhos do Coronel. Nicette Bruno e Cândido Damm que viviam Dona Benta e Visconde foram substituídos por Suely Franco e Aramis Trindade, Suely deu vida a uma Dona Benta incrédula (isso sempre vai ser muito esquisito), porem chegou bem perto da Dona Benta dos anos 70, até usando as vezes roupas parecidas. 
Já Aramis, deu um sotaque paulista ao personagem, e se tornou mais indefeso quando se trata das maluquices de Emília.  Outra novidade no elenco, é a presença de Chico Anysio, grande comediante, que dá vida ao tio de Cléo o Doutor Saraiva, alias, para quem não sabe a atriz Lupe Gigliotti, a Dona Joaninha do sítio, é irmão de Chico na vida real. Os pais de Pedrinho estão bastantes presentes também, coisa nunca vista na trama antes. Ainda falando na Cleo, sua madrasta faz raiva em qualquer um que assista ( que atuação!), e quem dá vida a vilã é Lu Grimaldi.

Mas tá achando que parou por aqui? Que nada, outro núcleo da história trás dois personagens novos, na verdade um não é tão novo assim, que é o pequeno Polegar, e a outra é sua namorada, a fada Tambelina, que vive fugindo da Dona Carochinha. Falando nisso, a Barata Cascuda é interpretada agora por Marilu Bueno.
  
Pesadelo adotou um novo visual, assim como sua patroa, Cuca, que agora estava bem mais medonha, e assustadora. Como essa é uma das temporadas que mais fez referencia ao sítio antigo ( destaque para a festa de quadrilha que acontece no Arraial, e Emília vai com tranças, lembrando a peruca de Reny de Oliveira, a Emília de 1978), e Cuca não ficou de fora, pois sua barriga listrada tem origem dos anos passados.


Outra novidade da vez é que Emília, com inveja de Patty Pop, manda a Aranha costureira do Reino das águas claras fazer novos vestidos para ela, na minha opinião, é muito bom ver a boneca com novas roupas, dando adeus de uma vez ao típico vestidinho vermelho e amarelo, que era usado desde a estreia do programa. 

A história que conta com o romance de Cléo e João da Luz,  não iria acontecer. Na verdade antes mesmo da estreia da trama foi dito que o programa seria baseado no livro Picapau Amarelo, e quem contou foi Márcio Trigo para o jornal O Globo. Uma nova versão de Dom Quixote iria ao ar também, cá entre nós, ainda bem que não foi né? Já deu de tanto Dom Quixote no sítio. Fato é, que a trama virou o que virou e agradou em cheio o publico, batendo diariamente sete picos no ibope. 

Na história, temos a participação de Miss Sardine, que retorna ao sítio amiguissima de Paty Pop (para quem não sabe, Miss Sardine morreu frita na frigideira de Tia Nastacia). Teteia, a irmã de Ceceu aparece para morar com Dona Joaninha, e sinceramente, me arranca suspiros de raiva, já que a personagem super namoradeira, existe apenas para importunar João e Cléo.


 Para a nova temporada, foram encomendadas novas canções é claro. Uma nova versão do tema de abertura, uma música digna para a Emilia, que pisa com força na canção de 2001, cantada pelo Pato Fu (presente também na trilha anterior do programa), a canção da bonequinha de plástico dita a cima, e também temos um tema para o Zé Carijó, música que fica na cabeça da gente. Outra que ganhou musica tema, é a Fadinha Tambelina, e quem diria que até o saudoso Ney Mato Grosso participaria da trilha cantando o tema da Cuca, chamado Sem Medo de Assombração, outro ícone presente no CD é Milton Nascimento que canta o tema da mãe d água, Iara. Desde os tempos antigos que não tínhamos uma musica tema para Dona Benta, e dessa vez tivemos, a música que mais fez sucesso (e que mais toca durante a trama), é Nós Dois, do grupo Jukabala, tema de João da Luz e Cléo. Leandro Leo que interpretou o Pesadelo cantou sua propria musica tema, e para as cenas do arraial entrarem no clima, a canção Tristeza do Jeca na voz de Zezé di Camargo e Luciano encaixou perfeitamente, dando um ar de nostalgia até para quem assiste pela primeira vez. Por fim, temos a canção Descobrindo o que é o amor, música cantada pelo Gustavo Pereira, o Zequinha na trama, e vou te contar, essa música deu o que falar no seriado hein? Quem assistiu entende o que estou falando né? 




Enquanto eu pesquisava para escrever essa matéria, achei quase inútil falar aqui sobre essa temporada, já que na Wikipedia temos um texto maravilhoso sobre essa temporada, e quem escreveu tá de parabéns. Mas é sempre bom ler coisa nova e diferente não é mesmo? Espero que tenham gostado, e para quem sentiu vontade de assistir a temporada, é só clicar aqui, pois o canal O Picapau Amarelo, está postando para a gente. Até a próxima.

Ficou com preguiça de ler isso tudo? Um video com este texto já foi publicado em meu canal:

terça-feira, 20 de agosto de 2019

O Conceito do Sítio do Picapau Amarelo de 2006

Talvez essa seja uma das temporadas do Sítio mal interpretada por uma grande parte do publico, por fazer parte de um conceito, diferente do que estavam acostumados, pelo menos desde a estreia da nova versão do Sítio, em 2001. Vou tentar explicar para vocês hoje um pouco desse conceito, acrescentando curiosidades e fatos da época.


Em 2006, Geraldo Casé iria assumir a direção novamente do Sítio do Picapau Amarelo, mas infelizmente acabou sendo afastado. Débora Gomez seria cotada para o papel de Emília, que entraria no lugar de Isabelle Drummond. Quem acabou assumindo a direção foi Carlos Manga, que se inspirou na versão dos anos 80 para a nova versão do programa, que agora seria mais musical que as outras versões, com destaque para Tia Nastacia que estava sempre cantando clássicos acompanhada de bonecos de bichinhos. Fofa. 

Todo mundo me dizia que o Sítio de 30 anos atrás é bom. Pensei: Poxa,mas vamos dar um passo pra trás?. Vi 60 capítulos daquela época, cheguei ao ponto de acordar conversando com Emília. Contou Manga na época.  

Carlos também sempre foi muito ligado nas produções da Disney, e a ideia da trama ser mais musical veio daí. Carlos se mostrava bastante preocupado com as crianças, alias quando não estava no Projac, sempre ligava para saber se as crianças estavam bem, ou se já tinha almoçado.  

Carlos Manga, com 78 anos na época, deu uma entrevista para O Globo, contando sobre as mudanças,Maga queria dar uma guinada no ibope, dizendo que as crianças esperavam mais aventuras.

Outra novidade foi a mudança da dupla de Pedrinho e Narizinho, pela terceira vez desde a estreia em 2001, saindo  Carolina Molinari e João Vitor Silva, e entram Rodolfo Valente e Amanda Diniz. Rodolfo veio de Sampa, e disse ser gratificante ter conseguido papel, se comparando ao personagem por gostar de aventuras. Já Amanda foi escolhida pelo próprio diretor, e em 2005 fez testes para viver a bonequinha de plástico Patty Pop. 



A grande novidade é Lara Rodrigues, que foi a primeira Narizinho dessa era de volta ao Sítio com uma nova personagem. Thávyne Ferrari e João Vitor permaneceram no programa como Caiporas. No ultimo capitulo da trama, a grande surpresa foi a participação de Dirce Migliaccio no programa. No elenco, Izak Dahora, Suely Franco, Dhu Moraes, e Aramis Trindade permaneceram. No site Memoria Globo é possivel achar curiosidades e informações sobre a temporada, confira a sinopse: 

A nova temporada do infantil começa com a chegada da princesa Thirza (Fanny Georguleas) à fazenda de Dona Benta. Após ver o reino onde vivia, Lumar, ser destruído por um grande furacão, Thirza decide ir ao encontro do príncipe Theo (Thyago De Los Reyes) no Reino de Luterra. Matilda (Patrícia Selonk), a dama de companhia da jovem, decide mudar o rumo da carruagem da princesa e levá-la ao mundo real. Matilda, na realidade, quer que sua filha Mirthes (Marcela Rosis) assuma o lugar de Thirza e se case com o príncipe do Reino de Luterra. Para cumprir seu objetivo, ela abandona a alteza em meio à floresta, e a jovem acaba encontrando abrigo no sítio de Dona Benta. A turma se une para levar Thirza de volta ao reino encantado. Quando Mirthes está prestes a se casar com Theo, ela e sua mãe são desmascaradas, graças à ajuda da fada Felícia (Sandy). As duas, no entanto, não desistem de seus planos, e armam muitas armadilhas para o príncipe Theo. 

Como perceberam, tem todo um conceito, e eu entendo que depois de assistir tanta farofa (termo usado para coisas que gostamos de cara), então assustou o publico algo mais simples, como foi a temporada de 2006. Já ouvi muita gente dizer que não curte o visual da Emília dessa fase, acredito que por ser mais simples (ou só por gosto mesmo). 

Fato é, que Carlos Manga conseguiu trazer um alá Disney pro Sítio, e deu certo pois a audiência teve picos bons, pelo menos no inicio da temporada. Sem falar que os produtos dessa temporada foram produzidos, como material escolar, trilha sonora e até bonecos. Deu certo. Para quem nunca assistiu, deixo aqui uma oportunidade, de verem o primeiro capitulo e algumas curiosidades sobre a temporada : 

 


sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Sítio do Picapau Amarelo 1985 / 1986

Em um tempo que o seriado já tinha decaído, e se desgastado com o tempo, o universo encantado do pica pau amarelo permaneceu ainda por mais dois anos. Com mudanças, e com direito até a uma nova pintura na casa, já que a proposta de Geraldo Casé era modernizar o sítio, afim de trazer novos ares para a trama, e fazer com que as crianças se vissem nos personagens. Vamos analisar então, os últimos anos da primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo na Rede Globo. 


 Em 1985, Casé decidiu que iria reformular o Sítio, a começar pela dupla de Pedrinho e Narizinho. Enquanto fazia os testes para as novas crianças, três episódios do Sítio de anos diferentes foram reprisados em forma de compacto com apenas cinco capítulos cada. Em meio de centenas de crianças, os escolhidos foram Gabriela Senra, e Daniel Lobo.

Quem diria que Narizinho um dia teria um visual tão atual quanto ao que Gabriela curiosamente adotou antes mesmo que a produção desse algum palpite. Já com Pedrinho, muito se especulava que além de aprender a lutar jiu-jítsu, Daniel aprenderia também a saltar de asa delta, para que qualquer dia chegasse ao Sítio voando. Diferente do que parecia, a ideia não era modernizar Lobato, como  Geraldo Casé disse na época.

Não vamos modificar Monteiro Lobato, cuja preocupação maior era a integração da criança com a natureza. Essa essência será sempre mantida. Mas temos que estabelecer uma visão mais contemporânea na composição dos personagens para que o publico encontre no programa necessidades e comportamentos semelhantes ao seu. Pedrinho e Narizinho têm que representar as crianças hoje vivendo no sítio. E para isso, temos que trazer o sítio para nossa realidade. 

Gabriela Senra tinha 9 anos quando foi escolhida (pois faria 10 em Maio), cujos pais incentivaram muito a carreira, na verdade em uma entrevista exclusiva para nós, Gabriela contou que a mãe fez de tudo para não leva-la ao teste, e a mesma insistiu até que conseguisse. Na época, em entrevistas Gabriela contou que sempre pensou em trabalhar na televisão, mas não imaginava que seria tão cedo e em um papel tão importante. Gabriela fez quatro testes e esperou dois meses para o resultado. 

O último teste foi no cenário do sítio com todos os personagens. Fiquei nervosa no começo, mas não era pelo teste, era pela emoção de estar ali junto com aquela gente que cresci admirando,. Sai sem muita esperança, mas disse para mamãe que mesmo que eu não ganhasse, só aquela emoção tinha valido a pena. Pensei que meu corte de cabelo podia atrapalhar, mas foi um barato! O Case adorou, e eu mais ainda. Contou Gabriela para O Globo na época. 

Gabriela recebia muitos elogios da equipe, e há quem diga que ela se parece com a atriz Rosana Garcia, que havia interpretado a primeira Narizinho no Sítio. Em uma entrevista para uma revista, o fotografo sugeriu que Daniel a entregasse uma flor para assim ele fotografar, daí que Gabriela soltou o seguinte : Eu já sou uma flor, pra que mais? Essas crianças prodígios da época, eram fogo. 

Daniel Lobo, tinha 12 anos quando passou no teste para fazer o Pedrinho, na época ele contou sonhar em fazer o papel, e que assistia muito o programa. Diferente de Gabriela, Daniel já havia feito alguns trabalhos no teatro, e em entrevista para O Globo, contou que chegou a torcer para um ou outro garoto que havia feito amizade nos noves testes que realizou. 

Ele também contou que o coração bateu forte, e ficou muito feliz em saber que seria mesmo o novo Pedrinho. Daniel também contou que sabia que o papel seria dele quando soube que seria o terceiro menino a fazer os testes, já que seu número da sorte era três. Assim como Izabella Bicalho (Narizinho 1983/1984) que recusou gravar um outro filme com Os Trapalhões, para se dedicar a personagem, Daniel Lobo também fez o mesmo. 

Gabriela era fã da banda Blitz, já Daniel adorava Os Menudos, alegando na época, que seu gosto era diferente de seus colegas.  Lembrando também, que o próprio Daniel pediu para Casé, que o deixasse fazer o testo, dizendo seu seu sonho interpretar o menino aventureiro.

O restante do elenco permaneceu, dentre eles Zilka Salaberry, Jacira Sampaio, e André Valli que já estavam no elenco fixo desde 1977, além de Susana Abranches que seguia fazendo o papel da boneca Emília desde 1983. Vale lembrar que no ano de 85, quem vestiu a fantasia da Cuca foi Rosana Israel, já que Catarina atuara em outro seriado nessa epoca.

A cenografia sofreu algumas mudanças para a nova fase do Sítio do Picapau Amarelo, a casa por exemplo é a maior prova disso, aderindo uma nova pintura nas paredes do lado de fora, desta vez com a cor rosa 
Casa do Sítio do Picapau Amarelo em 1985

Já se especulava então que um novo episódio engraçadíssimo, teria sido escrito para o seriado, por Marcos Rey e Hamilton Vaz Pereira. Estava entregue o episódio O Enigma Enigmático. A nova fase do programa estreou em uma segunda feira no dia primeiro de Julho, o programa agora seria exibido durante as ferias escolares. O Enigma Enigmático conta a história de um invento de um cientista brasileiro, o KL 7, que serve para desativar todas as armas nucleares. Criado para a paz ele pode no entanto, servir a interesses  escusos, quando é roubado por bandidos perigosíssimos. Parte da história se desenvolve a partir da busca por efetuada por Pedrinho e pelo detetive Borges (interpretado pelo ator Gracindo Júnior). Em outro polo da ação, aparece no sítio uma equipe do cinema americano. Zilka e Jacira, além de seus papeis de Dona Benta e Tia Nastacia atuam como Rut Davss e Sarah Maughan. A trama ia ao ar as 17:15 da tarde.


 No ano seguinte (1986), o episódio exibido foi A Trilha das Araras, gravado também em 1985, pois não houve uma pausa de gravação como foi de exibição, e foi também o ultimo episódio da versão clássica do Sítio do Picapau Amarelo. Uma história ecológica dessa vez foi o tema do programa, e foi escrito por Sylvan Paezzo com a colaboração de Margareth Boury, e dirigido por Fábio Sabag, o episódio foi exibido de segunda a sexta em 20 capítulos. A historia conta a busca empreendida por um pequeno índio Coaqui, de uma arvore sagrada, que dá força a sua tribo e que está sempre repleta de araras. Mas o percurso é interrompido por ladrões que querem contrabandear araras.O programa se encerrou por ai. Houve especulações que teria acabado por um possível incêndio local, o que nunca foi confirmado, já que o programa acabou pelo fato de ter permanecido tanto tempo no ar.



Mesmo tendo sido a ultima versão dos anos 80, hoje em dia é pouco comentado e explorado pela internet afora, agora não mais né? Até porque achei que precisava de um pouco mais de informações sobre essa fase do Sítio, que mesmo sendo a ultima não deixa de ser menos importante. Essa fase permanece raridade total e algumas cenas podem ser vistas no YouTube.  
 

terça-feira, 13 de agosto de 2019

A Despedida de Júlio e Rosana do Sítio do Picapau Amarelo

Desde que a trama estreou na Rede Globo, Rosana e Júlio são uma das duplas mais queridas pelo publico. Mas o tempo é cruel, e já era tempo de aceitar: Ambos estavam grandes para o papel, e já ficava dificil para interpretarem personagens de crianças estando tão crescidinhos. Rosana tinha que colocar uma faixa nos seios já que estava em fase de crescimento, Júlio gravava cenas de joelhos para não aparentar estar tão grande. Com o comunicado da noticia de que sairiam do programa, milhares de cartas foram enviadas para Globo pedindo para que eles continuassem no programa. Que tal uma analise da dupla no seriado? 


 Em 1977 estreava o Sítio do Picapau Amarelo na Plimplim, trama baseada da obra de Monteiro Lobato. Com capitulo piloto intitulado O Picapau Amarelo que era exibido em formato de novela, assim tudo começou. Para o papel de Pedrinho e Narizinho, Júlio e Rosana caíram feito luva, já que a menina teria dado um toque suave de doçura para a menina do nariz arrebitado, e o menino um ar menos desbocado que o dos livros. Deu certo. Até porque desde ai, permaneceram no programa até 1981, saindo com 15 (Rosana) e 16 anos (Júlio). 

A rotina das crianças era a seguinte: acordar, ir para a escola, chegar em casa (onde a Kombi da Globo já as aguardavam) iam para Guaratiba e gravavam oito horas, chegando em casa por volta de dez e meia da noite. O negocio era fogo! 

No final de 1977 foi vinculado que Júlio não faria mais parte do programa no ano seguinte, Júlio contou para a revista Sétimo Céu que quando contou a noticia para Jacira Sampaio (Tia Nástacia) os dois choraram com a possível saída, o que graças a Casé não se concretizou. Rosana gostava muito do personagem como contou na época : Gosto dela imensamente, não considero trabalho, é uma diversão. Concluindo, que acha importante fazer uma novela onde não são apenas filhos de gente problemático e sim personagens alegres e soltos. Parece até gente grande né? 

Com o total de cinco anos fazendo parte do Sítio, já a dois anos especulavam uma possível saída dos dois, dificultada pelo apego criado entre o elenco e produção.  A certeza da saída veio para Júlio depois que ele teve uma conversa com um dos responsáveis pela seleção das novas crianças, já Rosana disse só acreditar quando gravou a chamada para as inscrições dos novos atores. Por mais que estivessem tristes, o fato de terem agora a oportunidade atuarem em novos papeis diferentes do que haviam feito a anos. Esse era o plano de Júlio, já Rosana cogitava fazer teatro.

O último episódio gravado e exibido com eles foi A Mascara do Futuro, episódio esse bastante melancólico, capaz de arrancar lágrimas de muito marmanjo que se remete a lembrança ao rever.

Na história Emília encontra uma mascara no fundo do ribeirão, que quando posta no rosto é capaz de enxergar o futuro, prevendo que Narizinho e Pedrinho que já estão grandes, irão abandonar todos do Sítio. Com isso, ela convida os personagens do mundo da fantasia para morar no Sítio com a finalidade de retardar o crescimento deles. Visconde que também viu na mascara o futuro deles, tratou de criar uma maquina para impedir o crescimento, mas Pedrinho acaba ficando preso nela. No final do episódio, os personagens do reino encantado visitam o sítio e Pedrinho e Narizinho já crescidos, voltam a ser crianças e dão um forte abraço em Dona Benta, cena que simboliza o fim de uma etapa do programa. Pesado. Realmente muito triste o dialogo que eles tem na ultima cena ao lado de Emília, e só de lembrar enquanto escrevo já me aperta o coração. Clique aqui para assistir o episódio 

Eles deram lugar para duas novas crianças, e fato é que tinha que ser assim, já nem fazia sentido eles continuarem no programa, mas sabemos que eles conseguiram de alguma forma permanecerem crianças, de um jeito que nem Emília e Visconde conseguiram prever: Nos corações de quem guarda tanta lembrança das maravilhas do Picapau Amarelo. Obrigado Rosana e Júlio por proporcionarem tanta emoção e alegria para sua geração.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Entrevista com Pía Manfroni: A Minerva do Sítio do Picapau Amarelo 2007

Para nos fãs do Sítio, Pía foi uma excelente atriz atuando como a Dona Aranha, e também Minerva, mas se tem uma coisa que Pía faz bem além de atuar, é ser atenciosa e grata pelas pessoas que a elogiam, sendo eu a prova viva disso, pois nunca fui tão bem tratado por alguém do meio artístico, pelo menos não que tivesse sentido até então.  Além de atriz, Pía ainda é professora de teatro, diretora e produtora. Não é pra qualquer um hein? Vem ver essa super entrevista que fizemos com ela.



Você ficou um bom tempo no Sítio do Picapau Amarelo, primeiro fazendo a Aranha Costureira, e a Minerva. Qual dos dois personagens você gostou mais de fazer ? 

Dona Aranha, a costureira francesa foi bem legal fazer, super elegante e com sotaque francês mas Minerva foi a personagem que eu mais amei fazer!!! A secretaria do Barão de Tremembé, uma tranqueira de primeira e seus múltiplos disfarces

Para a Minerva você mudava constantemente de personalidade por causa do seu parceiro na trama, como era isso pra você? Ter que se reinventar sempre sendo um personagem? 

Uma delícia completa! Cada disfarce era super pensado em conjunto com a direção, a caracterização e o figurino; um trabalho de equipe. Composição do corpo, da voz, do sotaque…enfim, complexo e muito gratificante.



Se pudesse escolher, qual personagem faria no Sítio? 

Com certeza Emília!!!

Se lembra como entrou para o elenco do Sítio? 

A produtora de elenco Bruna Bueno já me conhecia da publicidade, já havia feito vários testes para ela. Ela me convidou pro teste e foi batata, tiro e queda. Sou eternamente grata!

Quando criança você tinha contato com o Sítio? Assistia na TV ou lia os livros...

 Sou apaixonada pela obra do Monteiro Lobato: os livros fizeram parte da minha infância e o programa da TV também.

Quando fazia o Sítio, tinha algum ator ou atriz que você era mais próximo? Mantém contato com algum deles?
 

Nossa… já conhecia e já tinha trabalho com vários atores e mantenho contato com quase todos até hoje; formamos uma família! Ficamos arrasados quando a temporada acabou…acreditávamos que teríamos vida longa de tanta sintonia, de tanto amor.




Quais os trabalhos na televisão que você mais gostou de fazer ? 

Sítio do Picapau Amarelo pela diversidade, a vizinha futriqueira Dona Anita da série infantil Valentins do canal Globo, a emprega Creuza do remake Pecado Capital onde tive a sorte de contracenar com Cassia kiss e Betty lago, meus eternos amores e a boliviana Magdalena da série 1 Contra Todos da Fox onde falo castelhano.

Tem alguma história pra contar pra gente na época das gravações?

Foram tantos ataques de riso, tanto cumplicidade, tanto amor envolvido. Ah… quando Minerva foi casar com o delegado eu levei minha mãe para fazer figuração na igreja kkk disse pra ela que era uma oportunidade me ver entrando na igreja vestida de noiva … oportunidade única e ela foi!!!





segunda-feira, 8 de abril de 2019

O Sítio Antes das Cores: TV Tupi

O Sítio já vem encantando gerações até mesmo antes da Rede Globo, ou vai me dizer que você não sabia que o Sítio já teve versão na Bandeirantes e na TV Cultura? Se não sabia, você está no lugar certo, pois iremos te contar tim-tim por tim-tim dessas versões antes das cores do Sítio que vem lá de 1952 da extinta TV Tupi. O post será dividido em duas partes: Primeira parte será Tupi, e segunda parte Cultura e Bandeirantes.

Aos amantes dessa versão, que assim como eu se encantam e contentam com fotos maravilhosas vindo direto daquele tempo, fiquem a vontade, pois estaremos falando da mesma língua.
Texto: Luis Henrique / Argumentação a acervo: Jefferson Cândido

A primeira versão televisionada do sítio nasceu dos mestres da TV Brasileira: Júlio Gouveia e Tatiana Belinky, e tudo começou quando Júlio foi convidado pela TV Tupi para levar suas peças infantis para a televisão, que logo após o convite já teve a ideia de adaptar as histórias de Lobato.

Antes de ser um programa de televisão, o Sítio estreou como um especial com a história "A Pílula Falante" , baseado em um dos capítulos do livro "Reinações de Narizinho". Então, no dia  10 de janeiro de 1952 nascia a primeira adaptação para a televisão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que foi gravado no programa Teatro Escola de São Paulo (TESP) um teleteatro para o público infantil. 

O Sítio deu tão certo na TV que a Tupi quis produzir um seriado da trama. Lembrando que estamos falando de um tempo que ler um livro era ainda uma alternativa para quando não havia nada para fazer (hoje em dia é menos comum), então para as crianças habituadas em ler a obra de Lobato, ver toda aquela magia sair dos livros e ir direto para a TV era coisa de outro mundo.
Fotos do primeiro programa na Tupi
Para a adaptação dos roteiros, Tatiana foi quem ficou encarregada, e então no dia 3 de Junho de 1952 estreou o seriado "Sítio do Picapau Amarelo" na Tupi. Cada episódio tinha média de 45 minutos e ia ao ar ás quintas-feiras. O seriado era todo transmitido ao vivo. O sucesso era estrondoso e duvido que tivesse uma alma viva longe da TV quando começava o Sítio. O programava se iniciava com Júlio abrindo um livro para contar uma história, e fechava o mesmo ao terminar. 

Os cenários do programa variavam muito de qual história estava acontecendo, esses quais eram montados na hora. Apenas o da varanda do Sítio era um cenário fixo (e também onde acontecia a maioria das cenas). 

Efeitos especiais na época poderia ser traduzido pelo termo "Se virar", não haviam muitos recursos e então eles tinham que adaptar da maneira que desse. Por exemplo: Para o Reino das Águas Claras, Tatiana Belinky, levou de casa o seu aquário e posicionou em frente as câmeras, para dar impressão de que estavam realmente de baixo d'água, logo após o termino do episódio, ligaram loucamente para a produção, pois queriam saber como tinham colocado os atores dentro da água.


Com tanto sucesso, foram surgindo os patrocinadores, lembrando que a série foi o primeiro programa a utilizar a técnica do merchandising na TV brasileira. Como não existia uma pausa nas histórias, digo, não havia comerciais, durante o programa eram introduzidas as divulgações dos produtos. 

Um deles era o "Complexo Puritas", uma espécie de achocolatado (como se fosse um Toddy ou Nescau de hoje), e ai quando iam divulgar o produto, as crianças apareciam na cozinha tomando o tal achocolatado. Uma vez, alguém da produção por algum motivo (marketeiros puros!), colocou sal na jarra do Puritas e quando os atores foram tomar o leite com achocolatado, tomaram todos um baita de um susto e cuspiram o produto do patrocino AO VIVO, e se engana quem pensa que isso atrapalhou o produto, até porque a fábrica do achocolatado teve que suspender o patrocínio por não conseguir dar conta de tantos pedidos que estavam recebendo.

Outro patrocínio do seriado era os sorvetes "Kibom", que dava de brinde para quem comprava os produtos um postal com uma foto de Lúcia Lambertini como Emilia autografada.

Foto do postal que ganhava quando comprava os sorvetes Kibom
Em 1955 o Sítio que era transmitido pela Tupi de São Paulo, foi levado também para o Rio de Janeiro, durando 4anos no ar com a direção de Mauricio Sherman (o mesmo que descobriu a Xuxa como apresentadora infantil) e produzido por Lucia Lambertini (que também fazia a Emília), que juntamente com Daniel Filho e Zeni Pereira faziam o Sítio pelas bandas de lá.

Uma curiosidade é que Zeni, que fez uma das Tia Nastacia, mais tarde fez participação no filme de 1974 O Picapau Amarelo, era realmente empregada da família Lobato (e foi indicada pelos mesmos).

O Sítio da Tupi teve troca de atores constantemente enquanto permaneceu no ar. Emília foi interpretada por duas atrizes (Lúcia Lambertini e Dulce Margarida ), Narizinho também (Lidia Rosemberg e Edi Cerri ), já o Visconde teve três atores (Rúbens Molino, Luciano Maurício e Hernê Lebon), Pedrinho foi feito por três atores também (Sérgio Rosemberg, Julinho Simões e David José), Dona Benta foi a que mais teve intérpretes, ao todo quatro (Sydnéia Rossi, Wanda A. Hammel, Suzy Arruda e Leonor Pacheco) e Tia Anastácia também  teve duas intérpretes (Benedita Rodrigues e Zeni Pereira). 

Durante o programa foram lançados alguns produtos que levam o nome da trama: Um disco com dois episódios e até algumas versões de bonecas inspiradas em Lúcia Lambertini. O Sítio da Tupi durou de 1952 até 1962 com um total de 360 episódios, e terminou por que a Lucia Lambertini queria fazer outros trabalhos, e tinha sido contratada pela TV Cultura dos Associados, e foi ai que o Sitio foi parar na Cultura, mas nós vamos deixar essa história para outro post.




                   

sábado, 6 de abril de 2019

Emília tira a Roupa! (e não coloca mais)


Calma,que nós não estamos fazendo uma matéria sobre a revista masculina da Reny, ou estamos? Na verdade, nós vamos fazer uma tour pelo universo da atriz que interpretou a boneca de pano por cinco anos, e o titulo faz alusão ao sumiço da atriz que um dia "tirou a roupa de Emília", e nunca mais colocou de novo

Até porque, as informações que temos é que Reny foi-se embora para o exterior dando adeus para nosso país de terceiro mundo.

Peço licença então aos admiradores e fãs da atriz que hoje é a mais memorável "Emilia do sítio antigo". (Assim chamam o Sítio da década de 70 a minha geração). Vamos lá?


Reny de Oliveira nasceu no dia 28 de dezembro de 1947 e iniciou sua carreira artística aos 14 anos, atuando em peças de teatro amadoras. Aos 17 anos, estreou no teatro profissional com a peça O Milagre de Anne Sullivan. Esse papel marcante abriu as portas para sua entrada na televisão, onde participou da novela A Última Testemunha (1968), produzida e exibida pela Record TV.

Após essa estreia, Reny atuou em mais oito novelas até chegar ao universo encantado de Monteiro Lobato, no papel da Marquesa de Rabicó. Sua trajetória no Sítio do Picapau Amarelo começou em 1978, substituindo Dirce Migliaccio como Emília, a boneca de pano mais famosa da literatura brasileira.

Reny estreou no papel no episódio Cupido Maluco. Sua caracterização trouxe mudanças notáveis: a peruca era maior e mais despenteada, e o sotaque da personagem estava em desenvolvimento, refletindo sua busca por uma identidade própria para Emília.


Reny como Emília no primeiro episódio em que atuou no Sítio.
Apesar de ter ficado por cinco anos no programa, Reny cansou de brincar de boneca e quis virar mulher. Em uma entrevista Reny disse que sentia ciúmes de Emília e que achava que a personagem estava lhe passando a perna, impedindo que seu lado mulher acorde, dizendo que como passa quase todo o tempo gravando como Emília, quando chega em casa acaba não tirando a boneca da cabeça, fazendo-a tomar atitudes não adulta. Conta Reny para uma revista na época. 

Mesmo com problemas diante do personagem, Reny nunca deixava de elogiar a bonequinha nas entrevistas, como por exemplo essa para a revista "Sétimo Céu" de 1979: " eu acho que a Emília é toda maravilhosa e o que mais me alegra e me deixa cheia de vaidade é a sua alegria, sua criatividade, sua vaidade e seu egoísmo. A Emília tem tudo isso, é uma menina ou uma boneca que tem tudo isso, criatividade, vaidade, alegria, egoísmo, ela é muito interesseira... Isso torna a minha carreira muito mais enriquecida e me deixa muito feliz".

Outro problema que Reny enfrentava com a personagem foi a maquiagem, que quem nos contou na época da saída de Reny como Emília foi a própria Dirce Migliacio: "Todos nós artistas retocamos a maquiagem, antes de enfrentas as câmeras de tevê, mas Reny, no início ela gostava de usar a maquiagem da Emília. Entretanto, assim que soube da agressão que a maquiagem estava fazendo a sua pele, ela se revoltou. Fiquei ao saber da sua saída, surpreendida. Eu soube que assim que as gravações terminam, ela corre até o lavatório e retira imediatamente. É uma pena ela sair." 



Para construir sua interpretação, Reny contou com a ajuda de Edi Cherri, uma das atrizes que interpretaram Narizinho ao lado de Lúcia Lambertini, a Emília da TV Tupi. Reny estudou os movimentos e trejeitos da personagem, mas afirmou em uma entrevista de 1979 que sua intenção era criar a Emília que existia dentro dela.

“Eu acho que a Emília é toda maravilhosa, e o que mais me alegra e me deixa cheia de vaidade é sua alegria, criatividade, vaidade e até seu egoísmo. Ela tem tudo isso, e isso enriquece minha carreira e me deixa muito feliz”, declarou à revista Sétimo Céu em 1979.

A atriz permaneceu no programa por cinco anos, mas com o tempo começou a sentir que o papel estava limitando sua identidade. Reny relatou que a rotina intensa de viver Emília, tanto nas gravações quanto fora delas, afetava sua vida pessoal. “Eu sentia ciúmes da Emília e achava que ela estava me impedindo de despertar meu lado mulher”, disse ela.

Uma Emília marcante

Reny rapidamente conquistou o público e deixou sua marca na história do programa. À revista Sétimo Céu, em 1979, ela falou sobre a complexidade e o fascínio da boneca:

“Eu acho que a Emília é toda maravilhosa. O que mais me alegra e me enche de vaidade é sua alegria, criatividade, vaidade e egoísmo. Ela é muito interesseira! Isso torna minha carreira mais rica e me deixa muito feliz.”

Apesar do sucesso, viver Emília trouxe desafios pessoais e profissionais. Reny se dedicava intensamente à personagem, gravando por horas caracterizada e, muitas vezes, levando trejeitos da boneca para a vida real. Essa imersão constante afetava sua percepção de si mesma.

“Eu sentia que a Emília estava me impedindo de despertar meu lado mulher”, confessou a atriz. A rotina exaustiva fazia com que ela sentisse ciúmes da boneca, acreditando que a personagem estava “passando a perna” em sua vida adulta.

Reny dando a bênção para Suzana que interpretaria Emília a partir de 1983. (Foto colorizada por Jônatas Holanda).

Os desafios da caracterização

Outro obstáculo foi a maquiagem pesada, essencial para dar vida à boneca. Segundo Dirce Migliaccio, Reny inicialmente gostava da transformação, mas, ao descobrir que o material estava prejudicando sua pele, começou a se revoltar.

Ela fazia questão de remover a maquiagem imediatamente após as gravações e até solicitou à Rede Globo que proibisse fotógrafos de registrá-la durante as filmagens em dado momento. Para se ter ideia, no dia anterior à gravação de um episódio, Reny precisava dormir com um óleo cheio de hidratante

A despedida do Sítio

Em 1982, após cinco anos no programa, Reny decidiu deixar o papel de Emília. Sua despedida seria no episódio “Aí Vem Tom Mix”, contudo, antes de sair, retornou para gravar o episódio especial "Reinações de Narizinho", que marcava a despedida de Daniele Rodrigues como Narizinho. Reny aceitou sob a condição de que suas cenas fossem reduzidas ao mínimo, embora tenha recriado a clássica sequência em que a boneca toma a pílula falante e ganha vida.

Reny de Oliveira, em uma de suas reflexões sobre o impacto de interpretar Emília, revelou o quanto a personagem influenciou sua vida pessoal:

“Eu me sentia sua irmã gêmea. E, como tenho uma irmã gêmea, Regina, senti a necessidade de viajar para os Estados Unidos, onde ela mora, acreditando que o contato com ela me faria bem. Emília era a boneca aceita, querida e desejada. Mas, no momento em que eu lavava o rosto, tudo mudava. A fantasia acabava, e a realidade era outra: a convivência com as pessoas era diferente. Emília me trouxe alegrias, mas também muita dor.”

A atriz também explicou que sua decisão de deixar o papel veio da necessidade de reafirmar sua identidade pessoal:

“Eu precisava mostrar meu rosto. Há, sim, um pouco de vaidade nisso. Mas a grande razão é que eu precisava mostrar que Reny também existe. Todos se habituaram a dar carinho à Emília e acabaram se esquecendo da Reny.”

Apesar de sua saída, Reny continuou sendo associada à personagem. A transformação como Emília era tão marcante que a atriz, sem a maquiagem e o figurino, muitas vezes não era reconhecida em eventos ou até mesmo na rua. Essa associação dificultou sua transição para novos papeis de destaque.

Reny de Oliveira precisou buscar ajuda de um grupo de análise tradicional para lidar com os desafios psicológicos que enfrentou ao interpretar Emília. Como parte do processo de reconexão consigo mesma, a atriz chegou a realizar uma despedida simbólica da personagem, marcando o fim de uma fase intensa e conflituosa de sua carreira.



carreira.

Em janeiro de 1984, Reny surpreendeu o público ao posar nua para a revista Playboy. Embora a decisão tenha causado surpresa em muitos, para a atriz, foi uma forma de libertação e reconquista de sua identidade.

“Durante cinco anos, representei um personagem que tinha uma espécie de vida própria. Posar nua foi tomar posse de mim mesma outra vez. Em vez de falar para as crianças, me senti criança de novo.”

Essa atitude foi mais do que um desabafo; foi uma reafirmação de sua existência como mulher e artista, distinta da boneca que marcou tanto sua trajetória.

Apesar de parecer inacreditável, ainda hoje muitas pessoas acreditam que Reny de Oliveira foi demitida pela Rede Globo por posar nua. Essa ideia equivocada foi endossada pela autora Socorro Acioli em seu livro Emília: uma biografia não autorizada da Marquesa de Rabicó. Contudo, a acusação é facilmente desmentida com uma simples pesquisa: Reny já havia deixado o programa muito antes de posar para a revista Playboy.

Outra polêmica gerada, desta vez por parte do público mais conservador, foi o folder de divulgação da revista, onde Reny aparecia usando a peruca da personagem Emília com a chamada provocativa: “Emília tirou a roupa”. A estratégia, obviamente, era um chamariz para aumentar as vendas da revista.

É importante contextualizar que, à época, posar para a Playboy era sinônimo de grande sucesso. Apenas figuras notórias ganhavam destaque na capa, e os ensaios eram realizados com um apelo artístico refinado, longe do sensacionalismo barato que muitas vezes se atribui ao tema.

Em 1986, Reny de Oliveira fez um breve retorno ao universo infantil ao interpretar Guanatuba, uma bruxa-fada e inimiga da apresentadora Simony, no programa A Nave da Fantasia. Apesar do novo papel, sua carreira no Brasil não teve a continuidade esperada, o que levou a atriz a tomar uma decisão definitiva.

Pouco tempo depois, Reny deixou o país e mudou-se para os Estados Unidos. Lá, casou-se com um empresário e adotou o sobrenome Burrows. Em uma entrevista ao jornal Caderno da TV em 1996, ela explicou sua decisão:

“Deixei o Brasil por achar que Emília havia cristalizado minha carreira. Depois de três anos sem receber convites para trabalhos, desisti.”

Sua última entrevista para a imprensa brasileira foi concedida por telefone ao Jornal do Brasil em 17 de agosto de 1996. Quando questionada sobre a possibilidade de retorno ao país, Reny respondeu de forma direta:

“Voltar ao Brasil, só se for para receber direitos autorais. Espero que eles estejam muito bem acumulados. Se fosse aqui (nos EUA), eu já estaria milionária.”

Atualmente, Reny de Oliveira reside no Canadá. Após se casar em 2004 com James Burrow, presidente de uma companhia de consultoria, e posteriormente divorciar-se, Reny seguiu uma nova trajetória profissional. Hoje, é professora de Yoga (Ashtanga) e administra o Shiatsu Therapy Center, onde aplica seus conhecimentos acadêmicos adquiridos em seu mestrado em Psicologia, concluído no Cambridge College.

O legado de Emília

Reny de Oliveira marcou época na teledramaturgia brasileira com sua interpretação única de Emília no Sítio do Picapau Amarelo. Durante o período em que atuou no programa, a produção viveu um momento de ouro, sendo reconhecida pela UNESCO como um dos melhores programas do mundo. Sobre sua relação com a personagem, Reny refletiu:

“Acabei abrindo mão de mim mesma. E foi por causa disto que desisti de vivê-la. De certa maneira, a Emília estava tomando meu lugar no mundo. Mas mesmo tendo consciência disto tudo, abandoná-la foi difícil e custou muito sofrimento. Porque também havia um lado bom. Nela, eu libertava meu lado infantil mais bonito. Podia viver a alegria, a leveza, a falta de medo e a coisa maravilhosa de poder ser irresponsável.”

Toda a dedicação e entrega de Reny de Oliveira à personagem Emília cobraram um preço alto. A atriz enfrentou problemas psicológicos que chegaram a impactar sua relação com o elenco do Sítio do Picapau Amarelo. Conflitos constantes com Rosana Garcia e mudanças repentinas de comportamento foram reflexos do esgotamento emocional vivido por Reny.

No entanto, é importante ressaltar: julgá-la por isso seria injusto. Reny deu corpo e alma ao papel, oferecendo um trabalho impecável e digno de aplausos. Infelizmente, a televisão brasileira não soube reconhecer e valorizar sua entrega, resultando na perda de uma atriz de grande talento que poderia ter brilhado em muitas superproduções.

Sua decisão de não se reconectar mais com a personagem e com o programa deve ser respeitada, e fica aqui o desejo de que Reny tenha muitas alegrias em sua vida.

Mas agora eu quero saber de você! Gostava de assistir a atriz como Emília? Qual sua lembrança mais marcante? Deixa aqui nos comentários e vamos estender essa conversa. 


Texto: Luís Herrera  (atualizado no dia 13/12/24)
Imagens: Arquivo Manchete/ Blog:Tudo Isso é TV/ Coloração Jônatas Holanda
Trechos de entrevistas retiradas da página: O Mundo Mágico de Lobato e Flogão 54gostodositio;